quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Canacassala



















Era uma tarde de “cheiro a chuva” e o som da floresta era de silêncio, só os disparos da Bateria a intervalos regulares pareciam comandar as hostes das máquinas que reabriam aquela estrada de tenra idade mas onde as árvores nasciam e cresciam como os pelos das pernas de uma mulher. A estrada tinha 5 anos e as árvores brotavam do solo como a barba de oito dias de um homem barbudo (claro). Em 5 anos de inactividade já havia árvores com mais de 12 metros de altura no meio da estrada. Esta mulher, ou este barbudo tinham uma boa carne e o calor tal como o ambiente ou aquela terra vermelha era tão rica que a vegetação explodia de energia e força.
Á nossa frente 3 grandes máquinas trabalhavam em simultâneo. Uma ao meio da estrada e as outras duas nas bermas e nos taludes. Coisa nunca vista. O andamento e o resultado era tão incrível, que se fosse aqui no “Puto” qualquer Ministro seria condecorado com a maior medalha das Obras Públicas. Se calhar até não era…
Nós fazíamos a “protecção” e ficávamos muitas vezes parados a ver… a dormir… e não sei se a jogar às cartas.
A Bateria continuava a marcar o compasso dia e noite tal como nos barcos romanos para comandar os escravos dos remos, ou talvez como as badaladas de um relógio de sala ampliado ao limite máximo dos nossos tímpanos.
De repente alguém grita; cuidado não te mexas…. alarido geral e silêncio à mistura. Um camarada motorista sala para cima do unimog e sem ligar o motor mas destravando a viatura diz: empurrem…rápido… e assim aconteceu….Os camaradas empurraram a viatura de marcha atrás…. E a roda da frente do lado direito passou por cima da cobra “surucucu “ que se encontrava enroscada atrás. Do lado da frente da mesma roda estava um camarada sentado encostado à mesma a menos de um metro do bicho. O suor lá foi desaparecendo mas o susto foi longo…..
Sebastião Pires


Crónicas de Nambu 33 anos depois

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