quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Concertina ( Armónho )



Longe vai o tempo das concertinas dos acordeons e das gaitas de beiços (folaitas). Ainda tenho a minha concertina, velhinha, cheia de buracos e notas rofanhas. Tenho outra que por nova que é, tocando melhor, já não está no “tempo”, nem o tocador está “nesse tempo”.
Quando tinha 10 anos recebi de oferta do meu Padrinho Amário Pires do Vergão, uma pequena concertina com duas carreiras de botões do lado da mão direita. Naquele tempo na região do Vale d’ Urso era mais comum as concertinas só com uma carreira de botões.
O Ti Alberto pai do Artur sabia tocar as “músicas serranas” e era um grande dançarino e enquanto tocava, dançava com grande alegria e energia.
Eu ficava de boca aberta a vê-lo. Com ele aprendi a tocar as primeiras músicas de folclore; “Oliveirinha da Serra, Aprendi a acompanhar o Fado Serrano” em que o “Ti Tareso” era muito bom e outro como o “Ti Luís Pedro”, marido da Ti Virgínia, bisavó da Luzia, cantava, Já se sabe que eu fui ao passeio, Já se sabe que eu fui passear, encontrei lá uma menina, já se sabe que fui namorar. Ele cantava isto, sentado em cima de uma parede de pedra, de perna cruzada, inclinado para a frente com ar vago, chapéu na cabeça e casaco pelas costas, enquanto fumava de olhos semi-serrados o seu cigarro de folha de milho com uma mistura que ele cortava de um cordão que tinha trazido do Brasil. Nós os miúdos ficávamos ali encantados, nem para brincar dava…
Memórias de outros tempos…

Sebastião Pires


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